Hoje, 30 de abril de 2025, às 17h49, o mercado está de olho na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para a próxima semana, entre os dias 6 e 7 de maio. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria, projetou em entrevista ao Money Times que o Copom deve elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.), passando dos atuais 14,25% para 14,75%. Essa seria a sexta alta consecutiva no ciclo de aperto monetário iniciado em setembro de 2024. No entanto, Vitoria acredita que essa elevação não seria necessária no momento, apontando para um cenário econômico que pode estar mostrando sinais iniciais de desaquecimento. Vamos analisar o contexto, os impactos dessa possível alta e o que isso significa para investidores e consumidores.
Contexto da Projeção: Por Que o Copom Pode Subir a Selic?
A Selic está atualmente em 14,25%, o maior patamar desde 2016, após cinco aumentos consecutivos desde setembro de 2024. A última alta, em março de 2025, foi de 1 p.p., e o Copom indicou na ata da reunião que um novo ajuste, de menor magnitude, seria provável em maio, caso o cenário inflacionário continuasse adverso. O Banco Inter estima que o Copom optará por uma alta de 0,50 p.p., levando a Selic a 14,75%, mas também considera um cenário alternativo de alta de 0,25 p.p., o que poderia sinalizar o fim do ciclo de aperto.
A projeção do Inter é baseada em alguns fatores principais:
- Inflação Desancorada: Apesar de sinais de desaquecimento, as expectativas de inflação continuam altas. O Boletim Focus de março projeta o IPCA em 5,66% para 2025, bem acima da meta de 3% (com tolerância de 1,5 p.p.). A inflação de serviços, que acumula alta de 8% em 12 meses (descontados efeitos sazonais), segue pressionada por um mercado de trabalho aquecido e consumo elevado.
- Credibilidade do Banco Central: O Copom vem tentando resgatar sua credibilidade após críticas sobre a condução da política monetária. A ata da última reunião e declarações recentes, como as do presidente Gabriel Galípolo, indicam um tom mais duro para ancorar as expectativas de inflação, que estão desancoradas até para horizontes mais longos, como 2026 (projetada em 4,48%).
- Cenário Externo e Interno: A guerra comercial entre EUA e China, intensificada pelas tarifas de Donald Trump, pressiona os mercados emergentes, incluindo o Brasil. O dólar, embora tenha recuado de picos acima de R$ 6,00 para R$ 5,80, ainda reflete incertezas globais. Internamente, riscos fiscais, como a ausência de medidas estruturais para conter o crescimento da dívida pública, mantêm a pressão sobre os juros.
Apesar disso, Rafaela Vitoria argumenta que a alta não seria necessária, pois há sinais de desaceleração econômica – como o crescimento mais lento do setor de serviços (0,8% em fevereiro, segundo o IBGE) – e o câmbio mais favorável pode ajudar a aliviar as pressões inflacionárias. No entanto, ela reconhece que o Copom deve priorizar sua credibilidade e optar por uma decisão mais firme.
Impactos de uma Selic a 14,75%
Se a projeção do Inter se confirmar e a Selic subir para 14,75%, os impactos serão sentidos em vários setores da economia:
- Consumidores e Empresas: Juros mais altos encarecem o crédito, desestimulando consumo e investimentos. Empréstimos e financiamentos, como os de veículos e imóveis, ficam mais caros. Para empresas, o custo de capital sobe, o que pode frear expansões e contratações, especialmente em setores sensíveis a juros, como construção e varejo.
- Investidores: A renda fixa se torna ainda mais atrativa. Títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, e CDBs atrelados ao CDI (que acompanha a Selic) passam a render mais – cerca de 1,23% ao mês (14,75% ao ano). Títulos atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+ 2035, que oferecem IPCA + 7%, também são beneficiados, já que a inflação alta aumenta o retorno real. Por outro lado, a bolsa pode sofrer, como vimos com quedas recentes em ações como WEG (WEGE3), que caiu 11,5% após seu balanço do 1T25, e Vale (VALE3), que recuou 2% após o lucro de US$ 1,39 bilhão no mesmo período.
- Economia Geral: Uma Selic mais alta visa conter a inflação, mas pode desacelerar ainda mais a economia. O Copom já reconheceu sinais “incipientes” de moderação na atividade econômica, e uma alta adicional pode intensificar esse efeito, aumentando o risco de recessão. O PIB, projetado em 2,3% para 2025 pelo governo, pode ser revisado para baixo se o consumo e os investimentos caírem.
Perspectivas e Sentimento do Mercado
O mercado está dividido sobre o futuro da Selic. Enquanto o Inter projeta 14,75% como taxa terminal em maio, outras instituições veem a Selic subindo mais:
- O PicPay estima 15% ao fim de 2025, com cortes começando só em 2026.
- A XP projeta duas altas – 0,75 p.p. e 0,50 p.p. – levando a Selic a 15,50% no meio do ano, com reduções a partir de 2026.
- Posts no X mostram que Bradesco e J.P. Morgan também apostam em 14,75% como pico, com um último aumento em maio, enquanto o Citi revisou sua previsão de alta de 0,75 p.p. para 0,50 p.p., refletindo uma curva de juros em queda no curto prazo.
Rafaela Vitoria, do Inter, acredita que o ciclo de altas pode encerrar em maio, com cortes a partir do fim de 2025, potencialmente levando a Selic a 12,50% até o fim de 2026, segundo projeções do mercado. Ela também projeta o dólar em R$ 5,80 (média anual) e o IPCA em 5,4% para 2025, com viés de baixa, o que pode aliviar a pressão inflacionária.
Conclusão: O Que Fazer com a Selic a 14,75%?
A projeção do Banco Inter de uma Selic a 14,75% na próxima semana reflete a postura mais dura do Copom para ancorar as expectativas de inflação, apesar de sinais de desaquecimento econômico. Para consumidores, isso significa crédito mais caro e menos consumo; para investidores, é uma oportunidade na renda fixa, com títulos como Tesouro Selic e IPCA+ oferecendo retornos atrativos, enquanto a bolsa enfrenta desafios, como vimos com as quedas de WEG e Vale após os balanços do 1T25.
Se você é investidor, vale priorizar a renda fixa no momento, mas sem abandonar a diversificação – ações de empresas pagadoras de dividendos, como Santander (SANB11), que lucrou R$ 3,9 bilhões no 1T25 e tem yield projetado de 8,8%, podem ser uma boa opção. Para consumidores, a dica é evitar dívidas e buscar alternativas de renda extra. A reunião do Copom na próxima semana será decisiva para confirmar essas projeções – e o mercado estará atento a cada detalhe. E você, como está se preparando para essa possível alta dos juros?